
A poucos dias do inicio da nossa missão, o
Sailors News dedica este texto a todas as Esposas de Marinheiros em geral, e ás nossas em particular. Um grande bem haja para todas.
«Quando as tuas amigas falam de pequenas demoras de seus maridos, sorris tristemente. O teu tarda semanas, ás vezes meses. Elas protestam por algumas horas de imprevista solidão. Tu calas porque estás só dias e noites.
A ti são negadas algumas satisfações das demais esposas: a de preparar a casa e de embelezar-te para ele, realizas estas tarefas de forma quase automática, porque não tens a recompensa de um elogio.
As noites te trazem a inquietude. Pensas profundamente em quem guia o seu barco, vês ondas altas enfurecidas, ouves o rugir da tempestade. Ás vezes sonhas que ele voltou, que está a teu lado. A alegria te faz despertar mas abraças o vazio. O silêncio recebe tuas lágrimas e prometes arrancá-lo para sempre do encanto do mar e dos portos. Porém, logo compreendes que jamais cumprirás este propósito. Acaso lhe pedirias se fosse médico que deixasse de curar? Pedirias se fosse músico que deixasse de compor? Marinheiro o conhecesses-te e o aceitaste e assim prosseguirá. Não, não poderás estreitar seus horizontes sem limites com a eternidade.
Esposa de marinheiro. Alegra-te! Só tu, entre as casadas, continuas sendo um pouco noiva do teu marido. A rotina e o tédio que matam tantos amores não prevalecerão contra o teu. Tua imagem idealizada pela ausência o acompanha sempre. Não temas o fascínio de outras terras, tu és a mais forte, ainda longe. És o alento e a esperança. Não importa que não te veja diariamente, mas que, á sua chegada, encontre o seu lar e a sua mulher superiores aos seus sonhos.
Tua paixão de amor merece o monumento que tens na Suécia, de pé, em uma coluna sobre a alta montanha, se vê ali tua imagem, símbolo do amor permanente. O vento te despenteia e brinca com tuas roupas. Estás só e tens muito frio, porém não deixas de olhar para o mar. Não te interessa a cidade que brilha lá em baixo. Em teu peito, que parece de pedra, o coração se agita como uma gaivota prisioneira que quisera voar atrás de um barco.»
Amadeu Martire Filho